Introdução
O sistema nervoso periférico, simplificando-se um pouco, pode ser
compreendido de duas maneiras: como a porção terminal do sistema
nervoso, quando consideramos que é através dos nervos periféricos que o
cérebro e a medula espinal carreiam impulsos e estímulos aos músculos
(neurônios motores), ossos e demais órgãos, permitindo a movimentação
do corpo e o funcionamento adequado das vísceras; ou, de outra maneira,
como a porta de entrada ao sistema nervoso, quando consideramos que é
através dos nervos periféricos que os impulsos sensitivos (tato, dor,
temperatura,...) são conduzidos até o sistema nervoso central (cérebro e
medula espinal), para aí serem processados e compreendidos.
O Plexo Braquial
Formado, geralmente, pelos ramos anteriores das 4 últimas raízes
nervosas da medula cervical (C5, C6, C7 e C8), e da primeira raiz nervosa
torácica (T1). Os quais, primeiramente agrupam-se formando os troncos
primários (superior, médio e inferior) e, posterior e gradualmente,
dividem-se para formar os cordões e ramos nervosos terminais que
inervarão todos os músculos do braço, antebraço e mão.
Consequentemente, é a estrutura responsável pelos movimentos e
sensações de todo o membro superior; desde os mais simples, como
elevar o ombro e/ou o braço, até aqueles movimentos mais finos
exercidos pela mão.
Tipos de Lesão aos Nervos Periféricos
As lesões aos nervos periféricos podem ser divididos em três grandes
grupos, segundo sua causa, evolução e prognóstico.
1. Compressões Crônicas: ocorrem em determinados pontos ao longo
do trajeto dos nervos. Geralmente, por um estreitamento nos
chamados “túneis”, que são estruturas de passagem do nervo bem
definidos, formados por ossos, ligamentos ou tendões. O
tratamento desses tipos de lesões permite, inicialmente, o manejo
clínico com medicações analgésicas, repouso, mudanças nos hábitos
de vida/perda de peso. Indicando-se a intervenção cirúrgica diante
da falha das medidas citadas, ou caso o paciente já se apresente em
uma primeira consulta com déficit nervoso motor e/ou sensitivo.
Exemplos:
a. Síndrome do Túnel do Carpo (punho e mão)
b. Síndrome do Túnel Cubital (cotovelo)
c. Síndrome do Túnel do Tarso (tornozelo e pé)
d. Síndrome do Desfiladeiro Torácico (ombro)
2. Lesões Agudas: decorrem de inúmeras causas, geralmente
traumáticas, sendo as mais comuns os acidentes automobilísticos
(principalmente motocicletas) e quedas de altura com
deslocamento inferior do ombro (Lesão ao Plexo Braquial). Além
disso, estas lesões podem ser conseqüência de ferimento por arma
branca (facas, foices,...) ou armas de fogo; e fraturas ósseas que
gerem fragmentos que lesionem algum nervo adjacente.
Ainda, incluem-se aqui as lesões ao Nervo Facial, cursando com
paralisia dos músculos de um lado da face. Este tipo de lesão,
geralmente ocorre após traumatismos cranianos ou na face, ou
após cirurgias para ressecção de tumores intracranianos (p.ex.,
Schwannomas Vestibulares, antes chamados Neurinomas do
Acústico). E, devido à assimetria facial decorrente, costumam
determinar importante impacto psicossocial aos pacientes
acometidos.
Podemos também citar aqui, as lesões ao plexo braquial
decorrentes de parto traumático (mães diabéticas, uso de
fórceps,...). Estas lesões podem ou não necessitar de cirurgia, mas
devem ser avaliadas por um especialista assim que possível.
3. Tumores dos Nervos: os tumores originados a partir dos nervos
periféricos são, em sua maioria, benignos. Compreendendo os
Schwannomas e Neurofibromas. Sendo que atualmente, valendo-
se de técnicas microcirúrgicas, a ressecção completa desses
tumores é na maioria das vezes, possível sem lesão do nervo sadio
e, consequentemente, sem ocasionar sequelas ao paciente. Os
tumores malignos dos nervos periféricos são menos freqüentes, e
quando ocorrem, a avaliação multidisciplinar é necessária para
considerar a terapia adjuvante (quimio e/ou radioterapia), e a
cirurgia quando indicada, geralmente não permite a preservação da
função nervosa.
Quando suspeitar-se de uma lesão de nervo periférico?
As lesões nervosas periféricas costumam apresentar-se com alterações
sensitivas (FORMIGAMENTOS, diminuição da sensibilidade, dor tipo
choque/queimação, sensação de peso) e/ou motoras (FRAQUEZA, atrofia
muscular) em área inervada por determinado nervo.
Considerações Gerais
Diagnosticada a lesão ao nervo periférico, seja uma compressão crônica
ou alguns tipos de lesão aguda, o tratamento inicial geralmente não será o
cirúrgico, e sim o manejo com medicações analgésicas e fisioterapia. A não
ser naqueles casos em que o paciente apresente-se com sinais
inequívocos de lesão completa e irreversível do nervo, déficits motores
e/ou sensitivos moderados/graves, ou ainda aqueles pacientes com
quadros dolorosos intratáveis com medicações e que não possuem
condições de esperar a evolução final do quadro clínico.
Uma vez instituído o tratamento cirúrgico, os resultados são variáveis e,
dependendo do tipo de lesão e da técnica necessária, devemos esperar o
início de alguma recuperação funcional apenas após 6 a 18 meses. Já que
estima-se uma velocidade de crescimento do nervo reparado em
1mm/dia. Além disso, o sucesso do tratamento dependerá de alguns
fatores fundamentais, como o tempo do tratamento após a lesão (melhor
prognóstico quando a lesão possui menos de 6 meses), e o acesso à
reabilitação.
Reabilitação
A reabilitação com fisioterapia especializada / terapia ocupacional são
fundamentais, sendo tão importantes quanto a cirurgia. Eu costumo dizer
que “nosso tratamento será incompleto se o paciente não realizar
fisioterapia”. E o paciente deve ter em mente que, o acompanhamento e
tratamento fisioterápicos são longos. Podendo durar no mínimo 6 meses,
e até mesmo anos (15 meses em média).